Mensagem do Papa Francisco no encerramento do IV Congresso Mundial Scholas Occurrentes
Cidade do Vaticano, 5 de fevereiro de 2015
Em primeiro lugar, agradeço o esforço que vocês fizeram para participar desde 4º Congresso. Agradeço pelas contribuições, que nascem da experiência.
Uma coisa que me preocupa muito é conquistar harmonias, que não é simplesmente atingir objetivos, conseguir acordos, alcançar entendimentos parciais. Harmonia é, de algum modo, criar entendimento de diferenças, aceitar as diferenças, valorizar as diferenças e deixar que de harmonizem, que não se fragmentem.
A mensagem que escutamos da Lumsa [Libera Università Maria SS. Assunta] recordava uma frase minha: não vamos mudar o mundo se não mudarmos a educação. E há algo que está totalmente desarmonizado. Eu pensava que era somente na América Latina, ou em alguns países da América Latina, que eram os que eu mais conhecia. É no mundo. É o pacto educativo que se dá na família, na escola, na pátria, na cultura. Está dividido, quebrado e não se pode colar. O pacto educativo quebrado significa que é a sociedade, é a família, são as instituições diversas que delegam a educação aos agentes educativos, para os docentes, que – geralmente mal remunerados – têm que carregar sobre suas costas esta responsabilidade e, se não conseguem, são recriminados. Mas ninguém recrimina as diversas instituições que têm faltado com o dever do pacto educativo, que o delegaram a profissão de um professor. Quero render homenagem aos professores porque se encontraram com este papa de mão quente e foram incentivados a continuar.
Scholas quer, de alguma maneira, reintegrar o esforço de todos pela educação. Quer refazer, harmonicamente, o pacto educativo, porque somente assim, se todos os responsáveis pela educação de nossos pequenos e jovens nos harmonizarmos, poderemos mudar a educação. E, para isso, Scholas busca a cultura, o esporte, a ciência; para isso, Scholas busca as pontes, sai da pequenez e vai olhar além. E hoje está dirigindo, em todos os continentes, esta interação, este entendimento.
Também o que busca Scholas é harmonizar a mesma educação da criança, do adolescente, do aluno. Não é somente buscar informação, a linguagem da cabeça. Não basta. Scholas quer harmonizar a linguagem da cabeça com a linguagem do coração com a linguagem das mãos. Quer que uma pessoa, um pequeno, um jovem pense o que sente e o que faz, sinta o que pensa e o que faz, faça o que sente o que pensa. Essa harmonia na mesma pessoa, no educando, e essa harmonia universal, de tal maneira que o pacto educativo o assumimos todos e, deste modo, saímos desta crise de civilização em que vivemos e damos esse passo que a mesma civilização nos exige.
Cada um dos povos que integram Scholas tem que buscar na própria tradição – sua tradição histórica, sua tradição popular – as coisas fundacionais, quais são as coisas que culturalmente são fundacionais na pátria. E, desde isso que deu sentido a esta pátria, a esta nação, mostrar a universalidade que harmoniza. A cultura italiana, por exemplo, não pode renegar Dante como fundacional; a cultura argentina, que é a que conheço, não pode renegar de Martín Fierro nosso poema fundacional. Surge em mim a vontade de perguntar – mas não o vou fazer – quantos argentinos aqui presentes estudaram, leram, meditaram Martín Fierro. Voltar às coisas culturais que nos deram sentido, que nos deram a primeira unidade da cultura nacional dos povos, recuperar o que é mais nosso, para cada um dos povos compartilhá-lo com os demais e harmonizar o mais importante: isso é educar para a cultura.
Além do mais, deve-se ir em busca do fundacional de cada pessoa, a sanidade fundacional, a capacidade lúdica, a capacidade de brincar. O livro da Sabedoria diz que Deus brincava, a sabedoria de Deus brincava. Redescobrir a brincadeira como caminho educativo, como expressão educativa. Então, a educação não é meramente informação, é criatividade no brincar, essa dimensão lúdica que nos faz crescer na criatividade e no trabalho conjunto.
Finalmente, buscar em cada um de nós e em nossos povos a beleza, a beleza que nos funde com nossa arte, com nossa música, com nossa pintura, com nossa escultura, com nossas literaturas. O belo. Educar na beleza porque harmonia diz beleza e não podemos alcançar harmonia do sistema educativo se não temos esta percepção do belo.
Eu agradeço por tudo que vocês fazem e como colaboram com este desafio que é criador: criador do pacto educativo – recriá-lo por que recriamos a educação; criador da harmoniza da pessoa entre as três linguagens, das mãos, do coração e da mente; criador da dimensão lúdica de uma pessoa, esta perda de tempo saudável no trabalho com as brincadeiras; criador de beleza, que já encontramos nas identidades nacionais, que estamos todos juntos. Este é o desafio. Quem inventou isso? Não se sabe, mas se deu. Há problemas? Muitos, muitos ainda a ser resolvidos na organização deste. Se somos tentados? Sim. Toda obra que se inicia é tentada; é tentada para frear-se, para corromper-se, para desviar-se. Por isto são necessários o trabalho conjunto e a vigilância de todos, para que esta faísca que nasceu siga expandindo-se em um fogo que ajude a reconstruir, a harmonizar o pacto educativo. Os que ganham com tudo isso são os pequenos. Assim que lhes agradeço pelo que fazem pelo futuro, porque dizer crianças é dizer futuro. Muito obrigado.
Livre tradução por Oniodi Gregolin