Vida religiosa e papel dos leigos foram temas do sétimo Ciclo de Debates “Utopias do Vaticano II”
Mais de 90 pessoas entre leigos e religiosos participaram do sétimo evento do ciclo de debates “Utopias do Vaticano II: que Sociedade Queremos? Diálogos”, da União Marista do Brasil (UMBRASIL). O evento, que ocorreu no dia 21 de setembro, no Colégio Marista de Brasília (DF), das 15h às 18h, proporcionou o debate sobre os documentos conciliares: Decreto Apostolicam Actuositatem e Decreto Perfectae Caritatis, com as temáticas: Vocação dos Leigos, Renovação da Vida Religiosa e Relação entre Vida Consagrada e o Laicato pós-Concílio. Participaram da Mesa de debates: o mediador Sérgio Coutinho, o professor e pesquisador do Programa de Gestão do Conhecimento da Universidade Católica de Brasília, Ricardo Spindola; o professor de Teologia Sistemática no Departamento de Teologia da PUC-Rio, Dr. Cesar Augusto Kuzma; e a religiosa da Congregação das Filhas de Jesus e atual conselheira da Província Brasil-Caribe, Ir. Vilma Moreira.
Após as boas-vindas e o momento de oração, Ricardo Spindola iniciou o debate fazendo alusão ao Decreto Apostolicam Actusitatem, quanto à atuação dos leigos na missão apostólica. O professor relatou a importância dessa participação e destacou dois pontos importantes do Decreto: o primeiro foi a essência do documento, que assume a vocação dos leigos, ou seja, reconhece que eles também são chamados por Deus, os leigos deixam de ser vistos como objetos dentro da Igreja e passam a compor a ação da Igreja. “O documento defende a perspectiva da práxis, busca a prática da busca por si mesmo, uma utopia que nos mobiliza e nos faz avaliar a caminhada”, relatou. O segundo ponto destacado foi sobre a temática que perpassa o documento, a autonomia dos leigos como princípio e meta a ser buscada. “O documento aposta na capacidade dos leigos na Igreja e nos seus projetos para o mundo”, explicou Spindola. A postura dos leigos diante do documento e de suas perspectivas também foi abordada pelo professor: “Como leigo diante do documento posso ter boa intenção e certo pragmatismo nas minhas ações; só que muitas vezes, o meu idealismo pode não ser o bastante e o pragmatismo pode provocar um sentimento de ‘fazer, sem saber para quê’”, opinou Spindola.
Para Cesar Kuzma, valorizar os leigos significa entender quem eles são e a quem estão servindo: Segundo o teólogo, as ações dos leigos são uma missão autônoma, cujo papel ainda não está claro na igreja. “Como são a maioria, os leigos devem ter sua vocação valorizada cada vez mais pela igreja e não serem considerados apenas como “o povo conquistado’”, opinou Kuzma. O professor disse ainda que a Constituição Dogmática Lumen Gentium, documento conciliar que explicita a concepção contemporânea da Igreja, é a base eclesiológica da vocação dos leigos. “São leigos os que têm consciência da sua vocação e da missão de Cristo. São também profetas do mundo e trabalham para a construção do Reino de Deus”, afirmou. O teólogo citou ainda três pontos que legitimam a ação dos leigos na sua missão apostólica: descobrir sua vocação, encartar-se com ela e comprometer-se em sua causa. “Se o leigo entender que a sua vocação é um chamado de Deus, ele vai colocar sua vocação como uma missão de vida”, concluiu Kuzma.
A última apresentação, sobre o Decreto Perfectae Caritatis, foi assessorada por Ir. Vilma Moreira, que falou sobre a Renovação da Vida Religiosa e Relação entre Vida Religiosa e Laicato Pós-Concílio. Segundo Ir. Vilma, o grande avanço do Vaticano II foi o reconhecimento do leigo e de seu papel na Igreja. Hoje o grande chamado é o descentrar, não fazer sozinhos o que podemos fazer com outros. Para a irmã Vilma, a importância dos leigos na missão religiosa, cujo papel vem alargando os espaços da tenda, deve ser reconhecida. “Eles não são apenas trabalhadores e ajudantes, mas pessoas que compartilham a missão junto com os religiosos na Igreja”, explicou. Para Ir. Vilma, os religiosos têm um modo de viver a missão religiosa e os leigos têm outro, mas eles vão juntos e “bebem da mesma fonte”, cada qual do seu jeito. “Assim, eles não se complementam, mas se enriquecem dentro dessa rica reciprocidade”, concluiu a religiosa. Ao falar sobre renovação e laicato na vida religiosa no pós-concílio, Irmã Vilma acredita que deve haver uma renovação e uma volta às fontes, para que assim possam ser feitas adaptações na vida moderna. “Perdemos tempo defendendo costumes e tradições e, com isso, perdemos a oportunidade de voltar às fontes e de fazer uma verdadeira renovação litúrgica”, lamentou a religiosa.
Após os debates, houve a participação dos presentes com perguntas e considerações aos assessores da mesa. Questões como tradições da igreja e sobre o papel dos leigos dentro dessas tradições foram levantadas e respondidas pelos debatedores. Na sequência, houve o sorteio de brindes e o encerramento do evento com um delicioso coffee break.
O que é o Ciclo de Debates
Composto por nove encontros, o Ciclo de Debates vem acontecendo ao longo do ano de 2013 e marca as comemorações dos 50 anos do Concílio Ecumênico Vaticano II. O evento tem a nobre missão de debater junto aos organismos eclesiais, a ação missionária da Igreja no Brasil e no mundo – uma discussão necessária num mundo secularizado e plural. Os Concílios são reuniões da Igreja Católica que acontecem de tempos em tempos para redefinir os rumos da instituição.
A União Marista do Brasil (UMBRASIL) é a idealizadora e organizadora do evento e conta com o apoio institucional da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB); da Conferência Nacional dos Religiosos do Brasil (CRB Nacional); da CRB Regional Brasília; do Conselho Nacional das Igrejas Cristãs do Brasil (CONIC); da Universidade Católica de Brasília (UCB) e da Associação Nacional de Educação Católica do Brasil (ANEC), colaboradores na construção da programação dos encontros, que reúne assessores renomados para proporcionar aos participantes ricos espaços de reflexão.
Confira a programação dos próximos eventos:
Os interessados em participar dos outros eventos podem se inscrever pelo site www.umbrasil.org.br/dialogosconcilio. A inscrição é gratuita e as vagas são limitadas.