Entrevista com Ricardo Mariz, coordenador da Área de Missão da UMBRASIL
Ricardo Mariz é Pedagogo, Mestre em educação e Doutor em sociologia pela Universidade de Brasília. Pesquisador do Programa de Mestrado de Gestão do Conhecimento e Tecnologias da Informação da UCB (Universidade Católica de Brasília). Membro da Comissão de Justiça e Paz do Distrito Federal. Focos de atuação: gestão social do conhecimento, gestão educacional, formação de professores(as) e educação e trabalho. Desde fevereiro de 2014 é coordenador Área de Missão da UMBRASIL. Confira a seguir a entrevista.
UMBRASIL: Tendo em vista o Planejamento Estratégico 2014-2021 do Brasil Marista, quais são os principais desafios para a área nos próximos anos?
Ricardo: As áreas na Umbrasil possuem um grande volume de atividades, isso não é diferente com a área de Missão, em especial se considerarmos que a área reúne três campos que se articulam, mas que possuem especificidades: educação, solidariedade e evangelização. Diante desse quadro penso que temos dois grandes desafios. O primeiro é metodológico: manter o foco na realização dos principais objetivos definidos no plano Estratégico. Isso significa não se perder no volume expressivo de atividades e atualizar as estratégias no que for necessário, ou seja, precisamos pensar no que estamos fazendo o tempo todo. Articular da melhor forma as urgências com aquilo que é essencial, já que essas dimensões nem sempre coincidem. O segundo objetivo está ligado ao resultado das nossas ações. A área de Missão mobiliza excelentes quadros do Brasil Marista e isso nos dá condições para avançar mais, construir melhores resultados. Temos desafios específicos no campo da evangelização, da solidariedade e da educação. Os três campos de atuação da área merecem o nosso melhor empenho. Tenho esperança que faremos, com a ajuda das Províncias, um belo trabalho nos próximos anos.
UMBRASIL: Sua experiência inclui a Educação Popular, as CEBs e a docência na área de Gestão do Conhecimento. Que novas perspectivas pode trazer para área de Missão?
Ricardo: Existe uma frase muito presente na educação popular que sinaliza o seguinte: cabeça pensa por onde os pés pisam. Nem sempre temos consciência do quanto os nossos pés, nossa caminhada alimenta, condicionam ou atrapalham nosso pensamento e nossos próximos passos, mas parece existir sempre uma relação entre a nossa experiência e os passos futuros.
A minha experiência de educação popular foi dentro da Igreja, em especial na assessoria do MEB (Movimento de Educação de Base). Penso que vivi uma experiência de Igreja e educação engajadas na “labuta” pela melhoria das condições de vida, em especial daqueles que mais precisam. A educação, enquanto finalidade, possui a tarefa de contribuir para construção do projeto humano, um projeto em aberto, em construção. Ela pode fazer isso reproduzindo as estruturas atuais ou contribuindo para sua transformação, ou ainda, um pouco de cada.
No esforço de sintetizar alguns elementos a partir da pergunta, acho que com a experiência da educação popular aprendi a clareza da dimensão política que constitui o ato educativo e que não existe condições ideais para um educador ou educadora atuar. O ponto de partida é sempre o ponto onde o educando se encontra, não é onde ele deveria estar, mas onde ele, a partir de seus condicionamentos, conseguiu chegar. É aí onde nós devemos iniciar nosso trabalho educativo. Enfim, acho que aprendi a “esperançar”, uma esperança que mobiliza, compromete a favor daquilo que ainda não existe, mas que já pode existir.
UMBRASIL: No ano passado nosso País realizou a 2ª Conae (Conferência Nacional de Educação); aprovou a Lei Nº 13.005, o PNE (Plano Nacional de Educação). Em 2015, o corte no orçamento do Fies, que atinge diretamente o Ensino Superior Privado. Quais perspectivas de atuação a área de Missão, no contexto do PE 2015-2021, tem para a Educação Básica e para o Ensino Superior?
Ricardo: Uma vez aprovado o Plano Nacional de Educação, temos uma dupla tarefa: contribuir para que as metas sejam alcançadas nas dimensões do acesso, qualidade, formação de professores e recursos e, fazer os avanços necessários em nossas escolas. Educação Integral, por exemplo, é um tema importante para nossos próximos anos. A qualificação constante de nossos professores é um outro exemplo, sem avançar nesse campo não conseguiremos fugir da inclusão de “baixa intensidade” que estamos construindo na educação brasileira, ou seja, podemos ampliar o número de estudantes, melhorar indicadores com treinamentos para provas, mas não necessariamente melhorar a aprendizagem dos nossos alunos. Acesso, indicadores melhores, avaliação de larga escala, tudo isso é fundamental, mas quando colocados à serviço da qualidade da aprendizagem. No Ensino Superior temos um desafio especial no campo da formação de professores para as licenciaturas. Esse é um campo que podemos construir uma contribuição singular para o futuro do país.
Enfim, parece-me que podemos contribuir para efetivação das metas, em conjunto com outros parceiros no campo nacional, e fazer de nossas escolas e universidades um aperitivo daquilo que desejamos para a educação brasileira. É um grande e belo desafio!
UMBRASIL: No próximo ano ocorrerá o V Congresso Marista de Educação e a área de Missão da UMBRASIL é que está à frente deste processo de preparação. Qual será a concepção metodológica para esta próxima edição?
Ricardo: Estamos trabalhando na organização do Congresso. Agora em junho faremos a primeira reunião dos Comitês, mas desde o final do ano passado temos trabalhado nos acordos com a Secretaria de Cultura responsável pelo Centro de Convenções, com futuros parceiros locais, no plano de negócios, na contratação da empresa de eventos. A concepção metodológica do Congresso está centrada em três aspectos: fazer do Congresso uma oportunidade de Experiência para os congressistas, ou seja, não precisamos de mais um congresso de educação no Brasil, precisamos de um Congresso que seja uma Experiência significativa para os congressistas. O segundo aspecto está relacionado ao “capital cultural” dos professores e professoras. Queremos pensar o congresso também como oportunidade de ampliação do capital cultural. Estamos organizando um Congresso de Educação em Pernambuco: como pensá-lo a partir da riqueza cultural simbolizada por meio de Paulo Freire, Ariano Suassuna, Mestre Vitalino e tantos outros? Finalmente outro elemento que nos ajudará na organização metodológica do Congresso é a ideia de brasilidade. O que podemos aprender com o nosso país, sua história e cultura para as soluções que precisamos e queremos construir na educação? Experiência, Capital Cultural e Brasilidade são os pressupostos que estamos considerando para organização metodológica do Congresso, além é claro de toda o aprendizado que construímos a partir das versões anteriores. Desejamos um Congresso que nos ajude a fazer perguntas novas, aprofundar a compreensão de nossos desafios e contribuir para as soluções que necessitamos construir.