V Capítulo do Distrito Marista da Amazônia: mística e profecia para um novo começo
Mais um marco pontual teve lugar na história marista na Amazônia. E a pergunta de base permanecia: Qual a missão dos Pequenos Irmãos de Maria nesta parte do mundo e do bioma amazônico? Mais questões foram aparecendo ajudando os Irmãos e leigos/as a se concentrarem em eixos essenciais para sua missão, uma delas como tema norteador para esse momento: mística e profecia para um novo começo.
Já houve diversos começos maristas na Região. Em 1903, em Santana do Araguaia; em 1967, em Lábrea, no Purus; depois foram surgindo outros, como Puerto Maldonado, no Madre de Dios; Tucupita, no Orenoco; Sucumbios no Aguarico; e outras fundações foram pontilhando o mapa da imensa Amazônia.
Todas as nossas presenças missionárias na Amazônia aconteceram ao longo de caudalosos rios portadores de vida. É a água que dá vida às pessoas e a seus projetos. Segundo o salmista, os que estão plantados às margens desses rios nunca secam e produzem frutos abundantes, e essas águas são fecundas.
Esse Capítulo ocorreu em pleno clima de jubileus: 200 anos da fundação dos Pequenos Irmãos de Maria (1817/França) e 50 anos de origem dos Maristas na Amazônia ocidental (1967/Lábrea). Todos esses fatos e memórias foram lançando luzes e desafios. Não há como não se deixar questionar por La Valla, Fourvière, Montagne, Lábrea…, em nossos cenários atuais.
Eram 28 pessoas envolvidas nessas reflexões realizadas de 27 a 30 de dezembro. Presentes quase todos os Irmãos do DMA (15), o Ir. Provincial do RS, os Conselheiros Provinciais Claudiano Tiecher e Odilmar Fachi, o assessor Jurídico, Ir. Rosmar Rissi, e a secretária Provincial, Elaine Strapasson. Os Irmãos James Pinheiro e Márcio da Costa da PMBCN, o Ir. Jorge Gaio da PMBCS e os leigos Wilson Junior, Verónica Rubi, Ida Cristina, Miralda Gomes e Sernízia Correa. Dispostos em várias mesas na sala do CESMAR, como pequenas comunidades, foram se engajando cada vez mais na abordagem dos temas. Enquanto os relatos iam sendo expostos e as reflexões sendo manifestadas, mais as mentes iam se abrindo para acolher fatos vividos, desafios propostos, pedras na caminhada a serem removidas.
Tudo isso foi acontecendo na sede do Distrito Marista da Amazônia, em Porto Velho, que diversos Irmãos ajudaram a preparar. Os vários cenários que foram compostos conjugavam a inculturação na realidade amazônica, a simbologia marista, a espiritualidade. Diversos evocavam os grandes momentos históricos que estão sendo vivenciados. Não faltaram cores, sabores, formas, iluminação, sons. Frutas nativas mostravam a fecundidade da terra amazônica; as plantas evocavam a realidade da preservação ambiental, num cenário amazônico já bastante desfigurado. O que os Maristas podem e devem fazer para que a vida permaneça em plenitude nesse bioma tão cobiçado pelo voraz capitalismo?
O animado e esperançoso grupo foi sendo movido pelo clima desta quadra do ano: calor abafado do inverno amazônico com alternâncias quase repentinas de chuvas torrenciais e sol escaldante; pelas aves que gentilmente sonorizavam o ambiente, tanto o arrulhar das pombinhas, o mavioso canto dos sabiás, o altissonante grito dos gaviões e bem-te-vis. Eram ressonâncias dos momentos altos e baixos pelos quais cada um da assembleia passava, conforme os trabalhos iam sendo desenvolvidos.
Mal o Sol despontava, muitas vezes envolto na penumbra do tempo fechado, já estava tudo preparado para o desjejum. Esse e as demais refeições foram marcadas pelo regionalismo. Assim foi possível degustar frutas e sucos nativos, doces, cuscuz, e outros preparados da culinária local.
Houve espaço para o lazer, à noite, muitos se ‘digladiando’ com carteados, mas não perdendo o lado lúdico e fraterno. Os momentos de espiritualidade procuraram manter viva a memória do Instituto e do DMA. Entremeando estudos e partilhas grupais, o som da viola convidava a todos para cantos com ritmos nativos e letras que recolhiam a realidade amazônica.
De maneira amena, mas segura e dialogante, os coordenadores foram conduzindo os estudos. Tratava-se de revisitar o Plano elaborado (2010-2017) para adequá-lo ao momento. À medida que se ia chegando ao final, cresciam a participação e o otimismo. As decisões mais fundamentais foram assumidas por unanimidade.
Nossos líderes nos falam no momento de ter a coragem de recomeçar. Recomeço a partir de Champagnat, do carisma fundacional. Com o tempo, foi deixando de receber as luzes do Evangelho, o fogo do Espírito e perdendo ao longo do caminho as pegadas de Jesus. Para isso se revisitou o “Sonhos de um curumim”, linda página escrita nas origens do Distrito Marista da Amazônia.
Enquanto se dialogava e se questionava sobre mística, profecia, seguimento de Jesus, novo começo e outros apelos urgentes para a sobrevivência da VRC Marista, emergiram fortes questionamentos, como: Temos coragem de realizar um novo começo? Que podemos fazer para ‘despertar a aurora’? Como ser discípulos missionários num cenário de vida abundante, mas presa de pessoas e grupos com mera visão mercantilista e consumista? Como viver a mística e a profecia na Amazônia, sendo atalaias, vigias, pedras de tropeço, tudo para que haja mais vida, sinais de esperança?
Por fim, os Irmãos Capitulares dialogaram sobre a simplificação da estrutura do DMA. Aprovaram a dissolução da Mantenedora ABAEC e a transição das suas atividades às Mantenedoras da PMRS. Sobre o modelo de organização canônica do Distrito, optaram, por unanimidade, apresentar ao Conselho Provincial a proposta de unificação com a PMRS, decisão que caberá ao Conselho-Geral do Instituto.
Com a presença dos/as leigos/as, foi aprovado o seguinte apelo e urgências para o triênio:
Apelo: Fortalecer o Ser Marista de Irmãos e Leigos/as, centrado em Jesus Cristo, com uma espiritualidade encarnada na realidade amazônica para um testemunho comunitário e profético, em defesa da vida.
Urgências: 1. Efetivar o novo processo de animação Vocacional. 2. Sistematizar a formação de lideranças eclesiais e educacionais. 3. Fortalecer o Ser Marista e a nova relação entre Irmãos e Leigos/as.
Para ajudar no pastoreio do DMA foram eleitos os Irmãos Danilo Correia (Vice) e Sebastião Ferrarini, empossados com o superior Ir. João Gutemberg na Eucaristia presidida por Dom Antônio Possamai, que também representou o Arcebispo Dom Esmeraldo. Nessa eucaristia, com participação de convidados da Igreja local, o Ir. João Paulo Vargas renovou sua Consagração, e as comunidades receberam seu envio missionário.
O processo avaliativo desses dias deixou a todos, entre outras, as seguintes sugestões: Assumir verdadeiramente o processo do despertar vocacional; comprometer-se coma formação de lideranças; intensificar momentos de formação conjunta de Irmãos e Leigos; ampliar a participação de leigos e jovens em eventos do Distrito; apresentar a realidade amazônica por meio da dança e da arte; organizar encontros de Irmãos e Leigos da região amazônica; convidar indígenas para esse tipo de encontro; e fortalecer a presença Marista na Amazônia com mais missionários.
Ir. Sebastião Antonio Ferrarini